De um modo resumido, Tendão é o nome dado às extremidades de um músculo, conectando-o aos vários ossos. A conectar os ossos entre si temos os Ligamentos. Quando o músculo contrai, o tendão vai transformar a força gerada pela contração muscular em movimento, servindo como uma “ponte mecânica” provocam movimento de um dado segmento corporal no espaço. (Loiacono, C. et al., 2019) Para além disto, o tendão absorve forças externas por forma a limitar sobrecargas musculares (funcionando quase como um armazenador de energia). Graças às suas propriedades propriocetivas (proprioceção é a capacidade que o nosso cérebro tem de reconhecer a posição do nosso corpo no espaço), constituem um papel importantíssimo nos ajustes posturais. Os tendões têm vários componentes que o constituem: tenócitos, fibras de colagénio, entre outros.
Disfunções do Tendão são o grande grupo que engloba tanto Lesões Traumáticas (que ocorrem num momento específico no tempo, como a rutura do tendão associada a uma lesão no desporto por exemplo) como condições que se desenvolvem durante um maior período temporal levando a dor e diminuição de função do tendão como Tendinopatias. Ambas são extremamente comuns e constituem 30% de todas as consultas do foro ortopédico/músculo-esquelético.
As Tendinopatias podem-se classificar consoante a sua origem em:
Tendinites: caracterizada pela inflamação;
Tendinoses: caracterizada por alterações degenerativas na estrutura do tendão.
Na maioria dos casos, as Tendinopatias têm origem em mais do que um fator, que em conjunto levam à perda de integridade do tendão e consequente rutura. Contudo, de modo geral, pode dizer-se que a tendinopatia surge pela tentativa mal sucedida do nosso organismo recuperar o tendão lesado, resultando numa proliferação não organizada de certos componentes do tendão, rotura de fibras de colagénio ou formação não normal de tecido cicatricial (Loiacono et al., 2019; Limpan et al., 2018)
Quais os sintomas?
Dor no local do tendão afetado, que por vezes diminui a capacidade da pessoa realizar a sua função e de desempenhar as tarefas do dia-a-dia.
É, geralmente, descrita como “forte” na sua fase inicial e como “moinha” após algumas semanas.
Opções de Tratamento
Não resta margem para dúvida quando referimos que o caminho será sempre estarmos atentos ao nosso corpo, aos nossos limites, e apostamos na prevenção mais que tudo. Devemos apostar num estilo de vida e rotinas que promovam a nossa saúde mais do que preocuparmo-nos com a doença. No entanto, quando esta surge, as respostas atuais são: farmacológicas, fisioterapêuticas e nutricionais. Vamos analisar uma a uma, destacando que raramente uma acontece em separado das outras.
Farmacológica: o tratamento através deste método é, segundo a evidência científica mais recente, muito limitado, uma vez que estas são estruturas muito pouco vascularizadas (com poucos vasos sanguíneos a irrigá-la), pelo que drogas que cheguem a este tipo de tecido do organismo são pouco eficazes. São frequentemente administrados anestésicos, por forma à dor ser mais suportável (algo que pode ser contornado e não é essencial), anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) e anti-inflamatórios esteróides (AIEs):
-Ácido Hialurónico tem revelado efeitos anti-infamatórios positivos, bem como na proliferação celular e síntese de colagénio (componente do tendão). Revela efeitos positivos em tendinopatias como epicondilite ou tendinopatia do tendão rotuliano, mas a evidência científica que suporte esta afirmação ainda é limitada.
-AINEs, na ausência da manifestação de um processo inflamatório, não alteram o curso da tendinopatia crónica e podem ter efeitos negativos no processo regenerativo dos tecidos, devendo ser utilizados com bastante caução.
-Cortico-esteróides representam um dos tratamentos mais comuns, no entanto muitos estudos sugerem que apesar de terem um efeito a curto-prazo na dor, a sua ação é prejudicial para o tendão a longo-prazo por reduzir a vitalidade celular do tendão e promover a desorganização dos seus componentes.
-Injeções de Plasma enriquecido com Plaquetas ou Proloterapia são algumas opções atualmente também disponíveis mas que, mais uma vez, não apresentam evidência científica com suficiente qualidade que suporte os seus benefícios nas tendinopatias. (Loiacono et al., 2019)
Fisioterapia: Vários métodos de Fisioterapia têm vindo a ser utilizados e desenvolvidos nos últimos anos, sendo que a prescrição de exercício é sem dúvida o método mais apontado pela literatura científica como ideal no tratamento das tendinopatias.
-Prescrição de Exercício: o tratamento mais eficaz para tendinopatias é representado pelo exercício terapêutico. Exercícios Excêntricos com alongamentos do músculo durante a contração têm tido um papel importante no tratamento da tendinopatia, principalmente (mas não só) em tendinopatias do tendão de Aquiles e do tendão rotuliano. Estes e outros exercícios promovem a ligação cruzada entre as fibras de colagénio presentes no tendão (que se encontravam lesadas), facilitando a sua remodelação e causam proliferação celular e remodelação da matriz celular. As propriedades mecânicas dos exercícios físicos também possibilitam a reorganização e recuperação das fibras do tendão. Dúvidas em relação ao volume, frequência, velocidade relativamente à prescrição de exercícios ainda permanecem, não sendo por isto possível a existência de 1 plano de exercícios que se adapte a todos os casos clínicos, sendo por isto essencial que um plano seja proposto e adaptado por um Fisioterapeuta e o seu utente, especificamente para cada caso, para cada pessoa.
-Terapia de Ondas de Choque: tornou-se muito popular nos últimos anos para tratamento de tendinopatias calcificantes da coifa dos rotadores, epicondilite, fascite plantar, tendinite do tendão de Aquiles ou do rotuliano. Teoricamente promovem a diferenciação de células estaminais derivadas do tendão, a proliferação de tenócitos (outro componente do tendão) e a síntese de colagénio. Para além disso, estima-se que promovem a libertação de substâncias que inibem a dor (endorfinas – “hormona da felicidade”). No entanto o mecanismo de ação ainda é desconhecido, e ainda existem poucos parâmetros standardizados de aplicação.
-Campos Eletromagnéticos Pulsados: teoricamente estimulariam os processos biofísicos, mas a literatura científica mostra-se ambígua e incoerente.
-Eletrólise Percutânea: despoleta uma reação orgânica localizada (através de uma agulha guiada por ultra-som), que se segue por fenómeno regenerativo. Alguns estudos mostram resultados encorajadores no tratamento da tendinopatia do tendão rotuliano, epicondilite e tendinopatia proximal do tendão dos ísquio-tibiais, mas ainda não é consensual.
-Ultra-som: terapia utilizada comumente em Portugal mas que hoje em dia se sabe existir evidência fraca da sua eficácia e do seu benefício para o utente.
-Massagem transversal profunda: os estudos e revisões da literatura mostram que esta técnica não apresenta nenhum benefício em relação a outros tratamentos.
-Laser: quando combinado com exercício terapêutico parece ajudar na diminuição da dor, no entanto desconhece-se ao certo o seu mecanismo de ação, e revela resultados heterogéneos (nem todas as pessoas reportam os mesmos efeitos).
(Loiacono et al., 2019; Limpan et al., 2018; Andarawis-Puri et al., 2015)
Nutrição: os efeitos metabólicos provocados pelo uso de suplementos nutricionais podem ser extremamente benéficos quando combinados com os métodos de eleição acima descritos. É necessário o acompanhamento devido por um nutricionista, uma vez que o abuso de certos componentes pode desencadear efeitos negativos, tais como o abuso de esteróides anabólicos-androgénicos têm evidenciado um risco aumentado para rotura do tendão no membro superior.
Outro exemplo importante é o facto da hipercolestrolémia ser um fator de risco reconhecido para o alto risco de desenvolver tendinopatias, e frequentemente encontrado em casos de rotura da coifa dos rotadores e tendão de aquiles.
A nutrição tem um papel importante na manutenção dos tecidos do nosso organismo, e o tendão não é exceção. (Loiacono et al., 2019)